domingo, 9 de agosto de 2015

Escritório da minha mãe

Minha mãe vivia com o notebook em cima do sofá ou da mesa de jantar, sentada em uma cadeira meio capenga ou banquinho sem onde apoiar as costas. Coloquei como meta de Julho construir um pequeno escritório pra ela. 

Diferente de antes, não coloquei expectativas nem pressões sobre mim mesma. Só defini o que era prioridade, respeitando o orçamento. O meu objetivo não era fazer um superescritório mas sim, dar mais conforto e saúde pra minha mãe. Percebi que fiz as coisas com muito mais alegria. Fui comprar as coisas com ela, arquitetamos juntas, o que fez com que conversássemos bastante e tornássemos o processo algo prazeroso.

Peguei o tampo de uma mesa que não usávamos mais, comprei dois cavaletes pretos, uma cadeira e uma luminária. O resultado foi esse:


Sim, bem simples. Mas o bastante para que ela tivesse o cantinho de estudo dela, com uma luz apropriada, uma mesa de melhor altura e uma cadeira confortável. No fim, achei que ficou até minimalista e combinando com o quarto. Não estou mostrando isso como exemplo de excelente escritório, mas escrevo porque foi um momento em que percebi que a arquitetura é as vezes questão de encontrar soluções.

Acho que estava com certo "trauma" com projetos de arquitetura. Só de pensar que teria que fazer um, já começava a me dar um mau humor e eu sabia que tinha algo de errado com isso. Me afastei e estou começando a ver de outra forma. Percebi o quanto talvez pequenas ações, como montar um escritório simples pra minha mãe, pode fazer tamanha diferença na rotina dela. Talvez pensando assim, eu volte aos poucos a projetar novas coisas. Sem pretensões.

Um bom fim de semana!

domingo, 2 de agosto de 2015

Libélula

Muitas vezes acho que vejo um sinal.
Depois meu lado um pouco mais racional diz que é besteira.
Meu lado emocional rebate, dizendo: Tente entender.
Tento, mas vem novamente o racional e me diz: Desista. Isso é perda de tempo, além de não te levar a lugar algum.

Hoje estava em um trânsito impossível para ver o festival de sakuras no Parque do Carmo. Havia deixado minha mãe e ditchan (avô) no meio do caminho pra que eles pudessem ir a pé e chegassem mais rápido do que eu, que ainda precisaria percorrer alguns metros de congestionamento intenso e arranjar algum lugar para estacionar. Bem, passado bastante tempo minha mãe me liga:

- Paula, o Ditchan cansou e não quer mais andar. Ainda não chegamos, acho que na verdade a entrada está longe. 

Com o calor queimando minha cabeça e um milhão de carros na minha frente, respondi de forma irritadiça:

- Ai, mãe, então vamos embora!

- Calma, já estamos tão perto. Vamos ver as sakuras, pelo menos.  

- Tá muito cheio, você não vê? To passando ai, pego vocês e vamos embora. 

- Ok...

Desligo o telefone e vejo pousado no vidro do meu carro, uma libélula. Não sei há quanto tempo estava ali, mas quando a notei, ficou mais uns 5 segundos e foi embora. O emocional sussurrou: será?

Lembrei de uma das histórias que minha mãe me contava quando era criança, era um livrinho em japonês e como eu sou mais visual, lembro apenas dos desenhos de pequenas libélulas coloridas de olhos grandes na beira do rio. Lembro dela me contando, o meu avô deve ter trazido o livro do japão naquela época. Nesse momento, pensei na minha mãe.. no meu avô.. e como tinha sido impaciente no telefone.

Racional: Que besteira. Você só está conduzindo seus pensamentos do modo como você quer pensar. Talvez se pousasse uma folha no seu carro você arranjaria um modo de pensar da mesma forma.

Emocional: Sim, talvez ele tenha razão. Mas independente de ser besteira ou não, a sua reflexão é, por sua vez, besteira também?

Minha mãe me ligou de volta. Fiquei olhando por dois segundos a tela e vi de alguma forma, minha segunda chance. Atendi de forma mais serena:

Oi, mãe. Já estou indo. Vamos tentar.